29 de setembro de 2009

Carta de amor

Um texto, não escrito para descrever, não escrito porque, não escrito com, nem em.

Não escrevo para, mas por.

Por ti.

26 de setembro de 2009

17 de setembro de 2009

Mato

As ruas nem sempre são o que parecem, bem, talvez nunca sejam o que parecem, mas aí já estou a desfazer complexos teóricos, que, sinceramente não fazem falta nenhuma, pelo contrário, chegam a complicar o que a uma criança é simples, e encarem a situação.
É tão bom saber o que é o amor quando nos sentimos plumas da infância, o senão está em quando se chega a essa conclusão a pluma já ardeu.
Deixem-se ir com a corrente por favor, tenho andado a fazê-lo, e não há que interrogar as suas causas e consequências, simplesmente é.


Perguntam agora, e as ruas? E eu, como bom samaritano que sou, respondo.

Estava apenas a observar os tons de terceiro mundo com um belo por do sol que a rua em frente à minha janela aparenta.

7 de setembro de 2009

Sentido - Uma tentativa de ensinar

Uma das grandes causas da infelicidade humana, é inquestionavelmente a sensação de que a vida de um, não tem sentido. E naturalmente todos procuramos não ser infelizes, nem que incoscientemente, assim se parte na procura do sentido, um significado.

Certamente não podemos concluir que todo este universo, este planeta e o seu funcionamento possa ser traduzido num significado, certamente não esperamos que tudo isto seja meramente um simbolo, que como uma máscara oculta o verdadeiro..sentido?
Na verdade estamos a usar as palavras erradas para o que estamos a inquirir, pois perguntando o significado da palavra azul, naturalmente «azul» simboliza a cor em si.

Então o que é que realmente queremos saber?


Muitos procuram o sentido em religião. Em qualquer religião teísta o sentido da vida é nada mais do que deus em si, a vontade de deus, a glória de deus. Mas tentem definir deus, a sua vontade e a sua glória, e estaremos no mesmo lugar. Talvez o objectivo aí esteja em pertencer, no sentido de te partilhar o mesmo sentido com outras pessoas, na esperança de não ficar sozinho, pois encontra-se uma grande satisfação quando um se manifesta dentro de um plano, ou propósito.


Podemos também defender que o tal sentido é preencher completamente as nossas necessidades e ímpetos biológicos, tais como a fome, sede, amor, felicidade etc. No entanto aí outra vez temos de questionar, para quê? para onde realmente nos apontam estas condições da nossa existência, não serão nada mais do que sistemas encaixados com o objectivo de continuar e continuar e continuar. Pois assim visto, apenas manter a existência é a sua função, comer e beber para sobreviver, amor com o intuito de reproduzir e simplesmente continuar no ciclo.


Ao que parece, o que nos iria satisfazer seria encontrar-mo-nos numa situação em que veriamos a vida como significante, mas qual o conteúdo dessa significância, o porquê?
E nessa ideia observa-se que estamos a baralhar conceitos nas palavras, nessa ideia queremos encontrar algo que nos permita concluir que a vida é significante. E é aí que entra a música.


Ao ouvir uma música, um complexo instrumental e/ou lírico, que desperte alguma emoção em nós, conseguimos sentir e constatar que todos aqueles sons arqueados em puro deleito para os nossos sentimentos, são de facto significantes, importantes! Mas não podemos achar a sua significância em nada mais do que na música em si.


Quando assistimos a um filme, e observamos certas paisagens, situações, sorrisos, conversas, realmente estamos a ver o filme, a sentir e a observar imagens que muitas vezes nos deparamos casualmente, como os passeios das ruas molhados, folhas de outono a cair, nuvens, os cabelos de uma rapariga a ondular ao vento. E o interessante nisto tudo é que estamos a disfrutar disso.


Quando ouvimos jazz, ou rock, ou qualquer outro estilo que nos cative, simplesmente começamos a entrar em sintonia com ele, dançamos e cantamos. Não estamos a procurar um significado na música, nos passos de dança nos movimentos do corpo ou no cantorolar que acompanha os sons do saxofone ou da guitarra. Estamos simplesmente a ser, a disfrutar.

Daí vem o divertimento, mas se quisermos continuar a inquirir qual é o significado do divertimento a sua razão, simplesmente não podemos responder, sendo divertimento apenas traduzido em apenas si mesmo.

O problema é tentar sempre ver algo com um objectivo, ou propósito, um sentido que se irá desenrolar, quando o significado de tudo não é nada mais do que tudo. Música é apenas música, é simplesmente suposto ouvirmos, cantarmos, dançarmos com ela, a vida é apenas isto. E se olharmos para tudo de uma nova maneira, vendo as estrelas, o céu, as folhas, pedras, as mãos, as nuvens, os cheiros, os prazeres, se olharmos para tudo isso e não tomar-mos tal como garantido? realmente vê-se que estamos numa situação estranha, ou mesmo dizendo improvável! E é nesse espírito, que se vê exposta a verdadeira maravilha, que é observar e contemplar a nossa existência como que se fosse uma música ou um filme, uma peça de teatro ou de circo, uma refeição, um mergulho, um poema, um beijo, um jogo.

E quando nos conseguimos aperceber disso observamos que o propósito da vida não tem propósito, o seu significado não tem significado e o seu sentido, não faz sentido..






Henrique Apolinário

1 de setembro de 2009

Louco da Pirâmide

levantai-vos agora ou nunca, filhos da alvorada. Ébrios, percorram os frios veios do granito da calçada. Acabarão sempre com o sabor de pó e cinza nos lábios, na suplica de ter força para erguer a cabeça. Nada adianta contra a vontade do relógio que se mantém imponente no centro da lua, a essas profecias embriagadas nada tenho a contrariar, mas nada tenho a acreditar da mesma maneira. As folhas aparecem de madrugada, dão a sombra que sempre o hábito domina, de noite tudo são viçosas pétalas a raiar pedaços minúsculos de luz, numa panóplia de cores, poucos se agarram ao seu cheiro.

Os que não o fazem, acordam.

Sou o velho que dorme no telhado da torre dos sinos, nunca lhes toco, tenho outros instrumentos.