23 de março de 2011

Figura

Após um breve inalar, a respiração prosseguiu acompanhada e esquecida, pelas outras vibrações. Uma mulher fazia-se soar. Uma mulher fazia as cordas do seu violoncelo deixarem de existir numa forma fixa e tensa para uma forma não visível, uma forma ela ignorada, talvez por isso mesmo. Mas ela conhecia todos os pontos, sabia chegar ao estado em que o tempo entre um movimento e o outro é apenas medido pela sua respiração (outrora esquecida). Qualquer outro dado distante fosse provavelmente lembrado por minhas fobias, mas não por ela, não, tudo era vácuo, um vácuo sonoro limitado ao seu espaço e este raciocínio involuntário suspenso por fios exercia a mesma gravidade do seu instrumento, pronto a cair não no silêncio, mas em qualquer outro som, intraduzível.







A frieza, a frieza das mãos desta mulher em contacto com aço. A vontade predominante era esvaziar o espaço dos pulmões, da sala, do mundo, todo o ar em excesso à sua acção, todo o som e pensamento desnecessário.







Há um momento de suspensão posterior, originado pelo desejo do som permanecer indefinidamente.

Tomada de consciência, tédio.

2 de março de 2011

Repouso

Uma homenagem à difícil ideia de nos transformarmos no mundo e o mundo transformar-se em nós, e noutras pessoas.






































Pelo menos, tentar ser humano, até morrer.