Após um breve inalar, a respiração prosseguiu acompanhada e esquecida, pelas outras vibrações. Uma mulher fazia-se soar. Uma mulher fazia as cordas do seu violoncelo deixarem de existir numa forma fixa e tensa para uma forma não visível, uma forma ela ignorada, talvez por isso mesmo. Mas ela conhecia todos os pontos, sabia chegar ao estado em que o tempo entre um movimento e o outro é apenas medido pela sua respiração (outrora esquecida). Qualquer outro dado distante fosse provavelmente lembrado por minhas fobias, mas não por ela, não, tudo era vácuo, um vácuo sonoro limitado ao seu espaço e este raciocínio involuntário suspenso por fios exercia a mesma gravidade do seu instrumento, pronto a cair não no silêncio, mas em qualquer outro som, intraduzível.
A frieza, a frieza das mãos desta mulher em contacto com aço. A vontade predominante era esvaziar o espaço dos pulmões, da sala, do mundo, todo o ar em excesso à sua acção, todo o som e pensamento desnecessário.
Há um momento de suspensão posterior, originado pelo desejo do som permanecer indefinidamente.
Tomada de consciência, tédio.
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Foi um acto quase involuntário ir escrever assim que li o teu comentário, pelo que pode ser considerada uma resposta.
ResponderEliminarPara mim é um pouco essencial, dependendo do texto ou de outros factores do momento, a música, quer seja quando estou a escrever ou quando estou a ler.
Concordo plenamente com a primeira frase e devo dizer que gosto muito da forma como escreves-te este texto e a forma como o ilustras-te com as fotografias. Quase como uma pausa entre cada pedaço de prosa.
A segunda imagem recorda à mente as pinturas de Vermeer.
ResponderEliminarObrigado henrique.
ResponderEliminarFico feliz por te ter oferecido tal apetite.
Continuo a imaginar-nos sentados, cada um numa ponta de uma mesa digna da realeza, tu com o chapéu de Napoleão na cabeça, ligeiramente inclinado para a esquerda a planear batalhas e a derrubar um exército de pequenos soldadinhos verdes.
os teus sonhos são sempre assim
ResponderEliminarO texto foi fruto do meu alter-ego, Gabriel.
ResponderEliminarA liberdade é terrivelmente assustadora, mas como o amor, só é valorizada por aqueles que têm consciência de que não a possuem.
As coincidências alegram a vida nos seus momentos mais sombrios.
Tenho saudades de representar.
Gosto imenso da música que aqui tens de Satie, costumo fingir que foi composta antes de este conhecer o (seu) amor.
ResponderEliminarEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarEncontro-me numa fase em que não sei o que deve assumir mais importância na vida: o Eu ou o Outro.
ResponderEliminarAs palavras que partilhei nas nossas conversas tornaram-se tuas desde que as escutaste.
Só peço para ler a peça e recordar.
A vida no palco é paralela à vida humana.
ResponderEliminarNo palco sou homem.
Também, mas a complexividade do cérebro humano ainda me fascina mais.
ResponderEliminarQuando estava a criar o post em questão lembrei-me de ti, de uma das nossas conversas passadas em que aconselhaste a ter alguém por perto caso experimentasse LSD. Still makes me smile and laugh.
O que é reconfortante na arte é que ela é criação do ser humano.
ResponderEliminarA vida é uma possibilidade, o que realmente é difícil é decidir como viver.
Nunca existe demasiada poesia.
Quanto à loucura é uma faca de dois gumes.
O mundo em que vivemos é muita coisa simultaneamente, mas é, antes de mais, uma confusão.
O que mais gosto em ti é o facto de te colocares a ti mesmo estas perguntas.
ResponderEliminarAté ao próximo Outono.
É um filme de imagens bonitas e diálogos filosóficos.
ResponderEliminarNão, foi apenas uma questão de lógica.
Após o Verão, regressa o Outono.
Sukhanov
Et toi, any trips planned for the summer?
ResponderEliminarParis é uma cidade demasiado cheia, demasiado complicada, demasiado cosmopolita e demasiado romântica.
ResponderEliminarMas, Paris ofereceu-me uma das minhas melhores memórias, porque foi nesta cidade que conheci e me apaixonei por Victoire de Samothrace.
Foi a primeira vez que ouvi dizer que Paris tinha jazz.
De facto, nunca poderemos viver sem vícios. Mas gosto de acreditar que pudemos viver sem rituais e sem coisas.
Talvez um dia, o dinheiro sirva apenas como matéria de sobrevivência e não como alvo de ambição.
O idealismo tem a vantagem de manter acesa a esperança, mas a desvantagem de roubar a beleza à vida.
Já tive a vontade de conhecer o mundo, mas agora quero apenas conhecer as pessoas e os seus rostos.
Serra da Freita é o local ideal para pensar e para ser livre.