5 de abril de 2014

A caducidade da obra

Quis ouvir o que diziam não a mim mas ao meu lado, no país ao meu lado, porque lá estavam cores que gostava e cheiros que me atraiam o centro, com força. Fui. Muitas pessoas não compreenderam a minha gestualidade mas eu, confiante (tinha trazido um cavalo escuro) avancei exercitando mãos e músculos da face. Expressei alegria, desconcerto, fascínio, declínio, certeza e fé. Acho que aprendi e que outros aprenderam comigo. Todas estas lições não têm resultados óbvios, como uma planta a aparecer dias depois de se semear sua espécie, mas para isso é que servem as hortas, e não as páginas e as tintas, as palavras e os olhares fixos a perder a noção de quando acaba o negro no meio do olho. O negro é diferente de um olho para o outro, a viagem que se faz entre a esquerda e a direita é abismal, não devemos estar demasiado focados, senão, quando damos um passo caímos. Eu tento agir com precisão, mas na minha mente estão eternos ecos de tudo o que já vivi a queimar ruidosamente um fogo imaginativo, chamas que não prevejo seguir a direcção cimeira do céu, um calor do futuro todo possível, a deixar-me ver mesmo que eu não queira, tudo ao contrário, palavras a nada significar e ter de aprender outra vez a escrever, mas sem professor, por gestos primitivos, através de gerações. imagina a estranheza dos seres que te estão a entrar aos milhares pelas narinas a dentro neste momento.

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