30 de julho de 2009

Floreados de acordeão

Na estreia da série de concertos, o violinista fixava a pedra de resina entre os seus dedos, o violino ignorava, estava acostumado a tais maneirismos do dono, este por sua vez, não esperava mais que a sua repetida reacção, tinham uma boa relação no entanto, cheia de batalha, mas uma batalha física e mental, sempre um tentando conquistar o outro. Amor.

O repertório era variado e nunca de tal maneira virtuoso, merecia uma certa preocupação da parte do executante, mas não este violinista, não este violino, este vivia no espectáculo, ignorando quem observa, ele apenas tinha olhos e ouvidos para o seu violino e este para os dedos calejados do artista, vivia pela sua obcessão, e assim fazia com que seus dedos, parecessem dominados pelos deuses e pelos domónios, cada uns para cada mão, sempre em disputa infindável.
Entrou no palco, e desde então mais nada ouviu que não viesse dos f's do instrumento.
Quebradas as serdas do seu arco, os mais ambiciados concertos, sonatas e tziganes, tinha fluido numa harmonia de paixão e emoção tão intensa que se fazia sentir o calor do silêncio, e as músicas, embora que efémeros pedaços de eternidade, pareciam realmente durar para sempre.
Depois de tal demonstração o violinista foi para os camarins, onde, enquanto tomava um duche, uma bela e alva mulher abriu as cortinas e entrou, sem nada a cobrir a sua pele que não os seus ruivos cabelos, e aí disse, O teu violino tem um som tão belo, com uma certa confusão o músico pegou no instrumento e encostou-o ao ouvido, aí exclamou, Engraçado, não estou a ouvir nada.

24 de julho de 2009

Adios Nonino

Antes de morrer. Não pensar na morte, seguir o faro do agora, como parece sempre estar, mas não realmente existir. Ilusões, ilusões. ACORDA! Eu sou imortal, conheço o presente, durmo com ele, vejo-o, toco-lhe, como-o, mexo os meus dedos na sua imensidão e expansão, eu não penso no futuro, eu sou o futuro, viajo em todos os sentidos da sua significância, e assim nada é impossível, e assim , nada temo, tudo se torna fútil aos pés desse sentimento , de consciência do momento, aceita-a, não lhe podes escapar isso garanto, assim fomos destinados a viver nesta unidade , neste espaço, nesta realidade, o que quer que seja, e assim podemos ser, o que quer que seja.

Não caminhes em direcção aos portões, eles virão , e serás tu a recebê-los, com a sua grandiosidade e esplendor é possível entrar pelas suas escadas flamejantes, sentir o seu calor e magia.

















Não sei temer.

Não sei morrer.

Sei que sou. Isso é o pleno significado.

21 de julho de 2009

Real

Penso que tenho sempre razão. Falo sempre sem razão.

























Amanhã vou trepar àrvores.

20 de julho de 2009

16 de julho de 2009

Psyche

O sol esbatia-se nas tuas sombras, cria impérios de luz em traços tão delicados. O lado negro da lua. O esplendor dos reflexos raiados do olhar, janelas de espírito.























Nesse mesmo momento sonhei que era algo dentro de um homem, tive de sair. Ao olhar com assombro para o meu exterior, o meu corpo, tive de o pintar. Os olhos sempre ficaram vazios, pois esses são reservados ao artista.


Gosto de acariciar barrigas.

11 de julho de 2009

Aracnodactilia

Disse-me um ser inócuo, vive sobre todo o oceano , levitando entre as ondas. As mãos são dois livros abertos. Quando as vejo trepar cordas com uma agilidade que parecendo sobrehumana, são livres e independentes, mergulham no fogo, só para regressar a casa. E realmente têm mais cara que osso, e o potencial das suas pontadas suaves em tudo o que desejamos sentir, esse passa entre espelhos, multiplicando-se ao infinito.



como suaves te as sinto, no meu rosto.

3 de julho de 2009

Eros

Calor, cânticos suaves acompanhados a lira ao teu ouvido. Porque sinto , porque sei, não admiro o espelho que jaz defrontado à minha ténue e grave voz. Talvez por não me ver reflectido na sua imensidão, que na verdade apenas uma ilusão criada pela luz emanada do belo luar radiante em noites de intensas danças ao fogo, frescura e água sentem-se nos pés, a loucura o prazer. Nada adianta se ainda vejo o manto prateado que me tormenta espelhando os meus traços, as minhas horripilantes teias de versos e memórias, quero sentir o novo, olhar a floresta de noite, entrar pela sua misteriosidade assombrante, nada se compara ao raiar da lua entre as árvores. Acabaria por adormecer com a cabeça apoiada no teu ventre.


Tens os olhos negros , parecem absorver a luz que te rodeia.