Quase no fio da lâmina, rezou a antecipação de cinco segundos
Um escritor deixou de caminhar, e fechando os olhos, chora, enquanto sorri.
Enquanto se manifesta na forma que não parece natural, entra num estado de subtil demência, onde encontra o mimo nas falas dos dias. Traduz céus e mares, sempre distante do mundo, mas não o ignorando.
A navalha aproximava-se, restavam 3 segundos.
Conseguiu pensar em mudar, e superar as concepções originais do que eventualmente escreveu e disse, quer por gestos quer por tintas, mas aí só a alma que possuía ousava acudi-lo, e isso levantava um apocalipse apenas previsto nos finais anos das suas obras, dormir seria melhor, mas contradizer o próprio ser tornou-se a filosofia predominante. Enquanto sentia tremores nos dedos, providos do desejo de afogar aquela armadilha que era elevar o lápis à testa, a navalha aproximou-se.
Um corte, no entanto imunidade, tão mortal como um astro, fez a pele brilhar esquecendo a certeza de que os mimos não sangram.
17 de fevereiro de 2010
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as minhas manhãs de intenso não têm nada, mas são muito calmas. e é fixe ficar pasmada a ver o tempo passar muito devagar, que é disso que eu gosto!
ResponderEliminarSempre considerei os escritores seres instáveis; podem viver períodos de seca (curtos ou longos) e de súbito sufocam em palavras (nativas ou não).
ResponderEliminar"Entra num estado de subtil demência, onde encontra o mimo nas falas dos dias. Traduz céus e mares"
É quando estamos entre a loucura e a sanidade que vemos a extensão de ambos, os loucos são assim denominados porque vêem para além da cegueira do mundo, vêem o mimo na fala. Os lúcidos são de facto os tolos que se limitam a si mesmos e as regras da sociedade, não atravessam o limiar da sanidade e acabam por ser loucos ao achar que conhecem de facto o mundo.
Quando o escritor traduz "céus e mares", penso nas linguagens mudas, que não conseguimos escutar, mas o escritor ouve a nuvem e a onda, e mais poderá ele ouvir (se quiser), como a pedra ou o móvel. O Homem é surdo e cego a um mundo interior às coisas físicas, mas o escritor vê e ouve e nas suas palavras traduz o que viu e escutou, traduz o sentimento dos sentidos.
"Mas contradizer o próprio ser tornou-se a filosofia predominante."
Porque que nega Ele as suas próprias vontades e pensamentos, não é isso uma fuga ao seu ser?
Disse aquela afirmação em relação ao escritor com base nos teus textos e nos de outros escritores que conheço.
ResponderEliminarMas quando o escritor termina um texto ou uma obra e decide partilhar a sua arte, Ele cria a oportunidade de tornar visíveis essas realidades aos outros.
Quando compreendemos um escrito ou mesmo criamos novas ideias, o que antes não existia para além do mundo do escritor, ganha vida no mundo real.
O escritor é desde o nascimento humano e depois nasce novamente como pessoa. Intrínsecos à pessoa são todos os seus reflexos: escritor; empregado de bar; actor; (...)
Não tenho a certeza se percebi o que querias dizer...
ResponderEliminargostei e (re)publiquei aqui:
ResponderEliminarhttp://arditura.blogspot.com/