14 de março de 2010

Raiar

A grande queda do íngreme pedestal que para ti representava uma iluminada inspiração começou após cinco batimentos em compasso binário, o percussionista contava. Até então, um passo atrás do outro, nada a pensar de quem passava entre a porta, dirigindo-se ao dia, mas bradiste um primeiro olhar ao tecto que prometeu mais do que o habitual ar fresco, no entanto, ainda não se revelava o já inquietante enredo, pois voltaste a cair na fonte da tua morte sensorial, lá todos aplaudiam ocorrências épicas, apenas visíveis nas tuas articulações verbais nervosas e excitadas.


Durante a passagem de planas e azuis nuvens, o percussionista conteve-se, receava perturbar os raios de luz que trespassavam as lâminas do seu vibrafone ao provocar investidas bruscas e imprevisíveis no instrumento, e nos objectos circundantes.


Olhos abertos, a jornada recomeçou, e ainda mais havia para esperar das tuas decisões perturbantes, que agora deixavam as nuvens ainda mais agitadas, apesar dos esforços do teu camarada. Sem conseguir devanear pelas divisões, tentaste compreender em vão o facto de estares a conseguir andar sem saberes que o fazias, e tudo isto se manteve como um som sinusoidal, que ilude o ouvinte a regressar ao infinito, tudo isto se manteve, até encontrares um pilar, aí, em vez de caíres, encostaste a mão direita à mármore, e apercebeste-te que a tua mente seduz-se a ela própria, e sem essa demente acção, não conseguiríamos fugir para sempre.

8 comentários:

  1. Passarei a minha vida a tornar simples o que ele tornou complicado?


    Mas o que haverá mais complexo do que o próprio simples?

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  2. Anónimo, eu gosto tanto de coisas simples como de coisas complicadas, e é como dizes, um paradoxo.

    Tenho um amigo que diz "A simples vida é uma coisa fantástica"

    Vejo uns desenhos animados que dizem " Porquê simplificar se podes complicar"






    Gosto tantos de pensar como os dois.

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  3. no bom ou mau sentido?
    realmente são, mas eu não lhes resisto. são lindas.

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  4. "não conseguiríamos fugir para sempre."

    vida é fuga

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  5. Existem várias frases que reflectem sobre a música e vários pensamentos relacionados com esta arte.

    Mas a música é puramente orgasmo sensorial, sem explicação lógica.

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  6. A única razão porque conhecemos a vida é porque existe morte.
    Tudo o que tem um início tem um fim.

    Dói saber que o momento termina, que vamos acordar do sonho. (por isso vive livre e de forma apaixonada)

    Todos os dias a vida termina, apenas para recomeçar noutro ser humano.


    (aprendi isto contigo)

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  7. Não tinha pensado na Lei de Lavoisier, quando escrevi o comment, mas acredito que muitos seres vivos se transformam.

    Mas o que realmente me fascina, é vivermos rodeados de vida e morte simultaneamente.

    Também não temo a morte, mas temo não viver o suficiente.
    Todos os seres vivos são portadores da morte.

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