8 de fevereiro de 2010

Mais um observador

Não estou certo do facto que um percurso, uma vida possam ser descritos com base em decisões, percorrendo todas as opções que são feitas, pois não sei discernir as que causam um impacto colossal no meu futuro e no dos que me rodeiam, e as que foram pobres acasos de futilidade neste jogo cósmico que é a nossa existência. Talvez não haja alguma diferença entre estas opções, mas eu estou em qualquer caso consciente de que as decisões que eu tomo e os seus efeitos não dependem inteiramente de mim, dando o óbvio exemplo do meu nascimento, não o escolhi, muito menos aqui, e nos tempos que decorrem...
No entanto, decidi aproveitá-lo, já há muito tempo, decidi inconscientemente, e sem saber o que significava decidir, mas decidi viver, e todos deviam ter o poder de fazer tal decisão. Partindo do momento crucial do meu aparecimento, nada que vos pareça extraordinário aconteceu (o observador acredita na complexidade da vista exterior), mas, para mim, olhando e rebuscando as teias da minha memória, cada momento foi simplesmente bizarro, e tão significante como o próximo, desde petiz fui exposto a conceitos que não consegui entender e a pessoas que não se esforçavam para mos explicar, e inocentemente, muito calado, aproveitava cada momento de mero silêncio verbal para vaguear pelo meu pensamento, sempre inconsciente que pensava, tenho pena de nunca terem conversado comigo acerca do que pensava, havia aqui um grande potencial, que, agora, ainda acredito existir, mas extremamente reduzido.
Tudo mudou com a música, com a exposição às formas de beleza, que já tinha visto, mas nunca contemplado, e as palavras que começava a ler um pouco por todo lado. Com as palavras que eu li, novas ideias surgiram, novos pensamentos ganharam liberdade de expressão, aprendi. A partir dos meus dez anos, conheci novos mundos, novas pessoas, e com elas construí novos fundos, aprendi que pensava, aprendi a escrever e a ler, a ouvir, a ver e, mais recentemente, a sentir, no sentido táctil e não só. Quando ainda não o sabia descrever, apaixonei-me, por pessoas, por imagens e sons, sempre obcecado com o que não compreendia, procurava também compreender-me a mim mesmo, e ainda hoje ainda procuro, ainda me apaixono. Nestes anos apercebi-me que gosto bastante de existir, e tomei essa consciência como uma forma de amar, partilhando com tudo o que me rodeia, o prazer que ser me dá.





















Já me julguei muitos: profeta; louco; escritor; artista; filósofo; poeta; deus, mas subestimei-me quando tal fazia, pois encontrei a descrição que mereço em não me descrever por outros termos, senão por humano, e isso é ser tudo. Posso acrescentar detalhes, porventura supérfluos, ao dizer que sei que não estou certo do que sinto, e sinto-me bem com isso, sem medo de morrer, falar, viver ou amar, sem medo de temer. Acho que cada vez tenho menos a perder, o que me dá um certo alento em perseguir uma liberdade que nos olha de frente, sempre à espera de ser abraçada, aceite, depende meramente da nossa vontade, e, como dizia Cesariny “fechar os olhos em frente ao precipício, e cair verticalmente no vício”. Sinto que o posso fazer, a qualquer altura que assim o queira, não manifestando qualquer outro pensamento que esteja ou não relacionado com o próprio acto.
Ganhei gostos, ideias eternas que vão sendo criadas com o tempo no mundo sensível, etéreas, físicas, são mais que o meu sangue, mas correm no mesmo corpo que tanto peso essencial e existencial carrega, tanto um como outro. Tomo tanto prazer em sentir como em pensar. O equilíbrio tornou-se a minha espiritualidade, substituindo o próprio sol que ainda amo como criador irracional disto. Vejo uma grande significância nos opostos que se completam, e com esperança de me tornar parte deste ponto em equilíbrio natural, continuo a pensar, a idealizar e a criar, simples humano, ser divino, que a sua divindade reconhece em tudo, um observador de uma brisa, de uma palavra, de uma alva mulher, de um gesto, do mundo, de mim próprio.

7 comentários:

  1. isto 'e tudo bonito, mas ser humano 'e incondicionalmente sofrer e querer desespero.

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  2. e quem disse que sofrer e desesperar não tornam aqui o nosso amigo uma pessoa melhor? O sofrimento e desespero podem ser benéficos, depende do ponto de vista.

    Tens uma maneira de expressão fantástica, imagino que muito venha da literatura (coisa por a qual ainda não me apaixonei.

    "Tudo mudou com a música, com a exposição às formas de beleza, que já tinha visto, mas nunca contemplado, e as palavras que começava a ler um pouco por todo lado. Com as palavras que eu li, novas ideias surgiram, novos pensamentos ganharam liberdade de expressão, aprendi.Quando ainda não o sabia descrever, apaixonei-me, por pessoas, por imagens e sons, sempre obcecado com o que não compreendia, procurava também compreender-me a mim mesmo, e ainda hoje ainda procuro, ainda me apaixono. Nestes anos apercebi-me que gosto bastante de existir, e tomei essa consciência como uma forma de amar, partilhando com tudo o que me rodeia, o prazer que ser me dá" -> tenho inveja de nao ter escrito isto.

    A foto está interessante já vi que pescas alguma coisa de fotografia, não tens nenhum site/galeria online onde exponhas?

    "Gosto disto"..

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  3. nao. incondicionalmente. mesmo que estejas feliz e cheio de sonhos e tudo aparentemente perfeito, vais querer sofrer de alguma forma, vais procurar falhas, vais procurar desespero. humanos nao conseguem lidar com felicidade constante. entao, a meu ver, dor 'e constante, e felicidade vem em 'bursts', pequenos fragmentos, mas voltamos sempre para o estado natural do ser humano, o estado de infelicidade, estado depressivo. 'e incondiconal porque esta enraizado. 'e isso que tenho me apercebido enquanto analiso a forma das pessoas estarem.

    a musica foi coincidencia. encontrei-a dias antes de encontrar o teu blog. conta-me a historia das 84 vezes.

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  4. são opiniões, mas nao acho que as pessoas vivam sempre num clima de stress pré/pós depressivo. Não é esse o "estado natural", estado natural é como cada um bem entender, alguns tristes, outros mais felizes. a mim nao me faz comichão.

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  5. encontras-te onde? está deveras caricata.

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  6. acho que a palavra correcta seria insatisfacao. porque mesmo que estamos felizes ou infelizes, nunca vamos estar satisfeitos com o que quer que seja.

    o que 'e que o satie queria dizer entao com 840 vezes?

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  7. a frase que disses-te no comentário xD


    para a sofia:

    nunca o homem terá nada na sua plenitude.

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