7 de setembro de 2009

Sentido - Uma tentativa de ensinar

Uma das grandes causas da infelicidade humana, é inquestionavelmente a sensação de que a vida de um, não tem sentido. E naturalmente todos procuramos não ser infelizes, nem que incoscientemente, assim se parte na procura do sentido, um significado.

Certamente não podemos concluir que todo este universo, este planeta e o seu funcionamento possa ser traduzido num significado, certamente não esperamos que tudo isto seja meramente um simbolo, que como uma máscara oculta o verdadeiro..sentido?
Na verdade estamos a usar as palavras erradas para o que estamos a inquirir, pois perguntando o significado da palavra azul, naturalmente «azul» simboliza a cor em si.

Então o que é que realmente queremos saber?


Muitos procuram o sentido em religião. Em qualquer religião teísta o sentido da vida é nada mais do que deus em si, a vontade de deus, a glória de deus. Mas tentem definir deus, a sua vontade e a sua glória, e estaremos no mesmo lugar. Talvez o objectivo aí esteja em pertencer, no sentido de te partilhar o mesmo sentido com outras pessoas, na esperança de não ficar sozinho, pois encontra-se uma grande satisfação quando um se manifesta dentro de um plano, ou propósito.


Podemos também defender que o tal sentido é preencher completamente as nossas necessidades e ímpetos biológicos, tais como a fome, sede, amor, felicidade etc. No entanto aí outra vez temos de questionar, para quê? para onde realmente nos apontam estas condições da nossa existência, não serão nada mais do que sistemas encaixados com o objectivo de continuar e continuar e continuar. Pois assim visto, apenas manter a existência é a sua função, comer e beber para sobreviver, amor com o intuito de reproduzir e simplesmente continuar no ciclo.


Ao que parece, o que nos iria satisfazer seria encontrar-mo-nos numa situação em que veriamos a vida como significante, mas qual o conteúdo dessa significância, o porquê?
E nessa ideia observa-se que estamos a baralhar conceitos nas palavras, nessa ideia queremos encontrar algo que nos permita concluir que a vida é significante. E é aí que entra a música.


Ao ouvir uma música, um complexo instrumental e/ou lírico, que desperte alguma emoção em nós, conseguimos sentir e constatar que todos aqueles sons arqueados em puro deleito para os nossos sentimentos, são de facto significantes, importantes! Mas não podemos achar a sua significância em nada mais do que na música em si.


Quando assistimos a um filme, e observamos certas paisagens, situações, sorrisos, conversas, realmente estamos a ver o filme, a sentir e a observar imagens que muitas vezes nos deparamos casualmente, como os passeios das ruas molhados, folhas de outono a cair, nuvens, os cabelos de uma rapariga a ondular ao vento. E o interessante nisto tudo é que estamos a disfrutar disso.


Quando ouvimos jazz, ou rock, ou qualquer outro estilo que nos cative, simplesmente começamos a entrar em sintonia com ele, dançamos e cantamos. Não estamos a procurar um significado na música, nos passos de dança nos movimentos do corpo ou no cantorolar que acompanha os sons do saxofone ou da guitarra. Estamos simplesmente a ser, a disfrutar.

Daí vem o divertimento, mas se quisermos continuar a inquirir qual é o significado do divertimento a sua razão, simplesmente não podemos responder, sendo divertimento apenas traduzido em apenas si mesmo.

O problema é tentar sempre ver algo com um objectivo, ou propósito, um sentido que se irá desenrolar, quando o significado de tudo não é nada mais do que tudo. Música é apenas música, é simplesmente suposto ouvirmos, cantarmos, dançarmos com ela, a vida é apenas isto. E se olharmos para tudo de uma nova maneira, vendo as estrelas, o céu, as folhas, pedras, as mãos, as nuvens, os cheiros, os prazeres, se olharmos para tudo isso e não tomar-mos tal como garantido? realmente vê-se que estamos numa situação estranha, ou mesmo dizendo improvável! E é nesse espírito, que se vê exposta a verdadeira maravilha, que é observar e contemplar a nossa existência como que se fosse uma música ou um filme, uma peça de teatro ou de circo, uma refeição, um mergulho, um poema, um beijo, um jogo.

E quando nos conseguimos aperceber disso observamos que o propósito da vida não tem propósito, o seu significado não tem significado e o seu sentido, não faz sentido..






Henrique Apolinário

19 comentários:

  1. Acreditas realmente que todos procuram não ser infelizes, que todos têm como objectivo encontrar o amor e a felicidade.
    Quando dizes todos incluis as mentes tortuosas dos vários criminosos, os pais que torturam filhos, os guerreiros que matam as suas próprias famílias a troco de dinheiro. Poderia continuar com um grupo de pessoas cuja demanda pessoal não envolve amor ou felicidade.
    Muitos reconhecem o dinheiro como mais importante que o amor.
    E existe ainda um vasto nº de pessoas que nem sequer conhece o significado da palavra felicidade, que nunca viveu momentos de pura alegria. Muitas pessoas que habitam no 3 mundo desconhecem por completo qualquer espécie de amor ou felicidade, e por isso não lutam sequer contra a dor que sentem pois não compreendem a existência de outro sentimento, outro modo de viver.
    Mas nem todos lutam por felicidade, isso não significa que não a encontrem ou que gostem de ser infelizes, muitos desistem ou não acham que valha a pena empreender esforços numa batalha por sentimentos que trazem consequentemente dor.

    Porque quer a felicidade quer o amor, andam de mãos dadas com o seu reverso. Não entendo porque assusta tanto as pessoas o facto de que o amor não é apenas alegria efervescente é também mágoa, mas isso é algo positivo, permite-nos valorizar a alegria/ o amor e compreender a sua importância.

    O homem nunca vai desistir de encontrar o significado das coisas, essa busca permitiu a evolução. O problema reside não na existência de um significado ou na sua busca, mas na verdade que ele transporta e na forma como utilizamos os conhecimentos adquiridos através dos vários significados existentes no mundo.
    Não acredito na existência das coisas pelo acaso, ou porque estava predestinado, muito menos na hipótese de que tal significado não exista, sem ele as coisas seriam vazias.
    Tudo tem uma razão de ser, uma causa, o problema é o facto de que nunca vamos possuir toda a verdade, se é que existe verdade, o significado das coisas está sempre em constante alteração, nenhuma ciência pode afirmar saber inteiramente o significado de algo. E esse facto incomoda o homem, pois cria o sentimento de inutilidade e também de ignorância, mas o pior é que nos torna inseguros relembra-nos o facto de que não somos essenciais á existência do universo.

    Quanto á religião, ninguém compreende inteiramente o seu significado, porque ninguém é imparcial. Quem não acredita em nada não entende por completo a mensagem primordial de cada religião, e quem acredita em algo apenas compreende aquilo em que acredita, isto se acreditar realmente, mas não cegamente sem escutar os outros.
    Mas acho que as pessoas não vêem na religião apenas como uma resposta as suas dúvidas, também acreditam em algo do que ela nos ensina.
    Os males criados pela religião teriam existido mesma sem que ela existisse, a sede de dinheiro e poder facilmente conseguiria encontrar outra justificação para a destruição que causa. Mas o bem causado pela religião não teria existido se ela também não tivesse existido, (penso assim).

    Mais uma vez me pergunto porque o homem não admite que necessita de sentimentos obscuros, o que assusta assim tanto as pessoas para que não compreendam a importância da existência de escuridão, este facto não diminui a importância da felicidade e do amor, aliás apenas o valoriza e o torna ainda mais esclarecedor. Porque custa tanto ás pessoas admitir que tudo o que começa termina, o amor não dura sempre, tal como as guerras terminam.
    Nunca vou entender o medo e a repulsa pela melancolia.

    Existem demasiadas variantes do que significam as coisas, o significado pode realmente ser a simples satisfação das nossas necessidades, mas existem outros significados e não é possível afirmar algum deles mais verdadeiro que o outros.

    O intuito do amor não é reproduzir, mais espécies e garantir a nossa sobrevivência, existe provas disso. É o amor que nos distingue dos outros animais, e para além disso existe amor sem haja reprodução.

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  2. Qualquer tipo de arte foi criado para preencher um vazio existente no homem. A are deriva de sentimentos, por isso mesmo que não consigamos compreender por completo o seu significado, sentimos sempre algo, independentemente do apreço que sentimos pela arte em questão.
    Mas não podemos confundir sentimentos com perícia ou valor artístico, existem músicas que não são arte e podemos mesmo assim sentir algo de positivo em relação a essa música.
    E a arte hoje em dia não tem mais o propósito de ser bela, pode também ser grotesca e atroz, precisamos de arte, o significado dessa necessidade ainda não é claro, e a arte em si nunca poderá ser catalogada.

    Quer em filmes ou músicas precisamos de estabelecer ligações com algo, de nos sentir compreendidos e de saber da existência de alguém com sentimentos iguais aos nossos, por isso ouvimos geralmente músicas de acordo com o nosso estado de espírito.
    Mas a arte já não existe apenas pelo prazer ou pelo divertimento, a arte já não tem de confortar e agradar. A arte pode ser apenas expressão ou protesto.

    Nada é garantido, tudo tem um prazo de validade, nós apenas não sabemos quando expira o do mundo.
    Dizem que ter consciência da morte, torna tudo mais belo, acho que torna tudo mais deprimente. Mas talvez seja uma mistura de belo e deprimente.

    Mas não acho que procurar o significado das coisas, dos acontecimentos, das emoções seja algo negativo.
    E aqueles que se dizem impulsivos, mentem-se a si mesmos, porque inconscientemente reflectiram sobre as suas acções, o grau de reflexão é que varia. Não a sua existência.

    O amor e a felicidade desencadeiam acções, mas é o significado que permite o conhecimento, e o saber é tão valioso como o amor, tão necessário á sobrevivência como respirar.

    (tive de comentar em duas partes, porque ultrapassei o limite de palavras)

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  3. não vale a pena refletir , eu existo só por existir .

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  4. exacto , não vale pensar muito nisso , eu existo e pronto , o resto são coisas que acontecem na minha existência .
    lê o post abaixo .

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  5. sobre a miri : a intenção é essa mesmo , ser completamente doentio e maldoso .
    é daquelas coisas tão tristes que chegam a ter muita piada mesmo . É chamado humor negro .

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  6. *é como o chamado humor negro .
    mas atenção , não é humor negro .

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  7. Já desisti da procura à não-infelicidade...

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  8. Não vale a pena dar sentido àquilo que não tem sentido!

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  9. sabes o que era bom? que o waking life passasse na televisão ♥

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  10. relativamente a cultura/etnia cigana a realidade actual na sociedade e no país em que vivemos é: poucos são os que pertence a esta cultura que sofrem de carências.

    se apenas pudesse fazer uma pergunta a deus, seria o que é ser livre.

    o que quis dizer em relação ao significado é que acredito que tudo têm um, mas que o nosso tempo de vida é demasiado curto para que possamos encontrar o significado de tudo a nossa volta.

    quando digo que existe músicas, livros, etc. que não são arte quis dizer que nos dias de hoje muita merda é vendida apenas pelo dinheiro, não considero arte nada que seja criado com o propósito de fazer lucro.

    mas isso não invalida a minha opinião de que a verdadeira arte não deva ser catalogada (penso).

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  11. observar a existência.

    sim, já vi. tive a página oficial dele como homepage e esteve lá algum tempo. venha quem vier, a criatura é realmente fenomenal.

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  12. não sei quanto tempo seria necessário, mas não existe apenas um significado.

    nós já conseguimos descobrir muitos significados, e cada um deles nos guiou a novas descobertas.

    mas o significado da vida, acredito que existe, não consigo viver com a possibilidade de que existo apenas porque sim.

    iria me sentir inválida e inútil.

    o 11 de setembro foi um ataque terrorista, o voo 93 é uma prova de como homens com crenças levadas ao extremo estavam dentro dos aviões, e tinham o objectivo de causar pânico e destruição.

    mas existe a quase certeza de que por de trás do ataque terrorista escondiam-se outros interesses, de que esses homens foram instrumentos para alcançar outro objectivo ainda desconhecido.

    o mais importante são as vidas.
    tanto as pessoas que sobreviveram como a que morreram, tinham uma história.

    e não foram mais do que figurantes num grande ecrã.

    hoje é um dia perfeitamente normal, não simboliza nada para muitos dos que já esqueceram o sucedido.

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  13. admiro muito o teu interesse neste assunto, e tens razão em tudo o que dizes.

    é importante continuar com a investigação e descobrir o sucedido e de que forma estavam envolvidos interesses políticos e religiosos.

    e acho importante ainda existirem pessoas interessadas em compreender a magnitude deste acontecimento. e quero perceber melhor o que de facto aconteceu e agradeço as informações.

    mas quando os media ainda davam uma importância significativa a este assunto, sempre preferi ver documentários que relatassem histórias pessoais.

    não consigo evitar, simplesmente gosto de saber que as suas vidas valeram algo e de ver como suportaram aqueles momentos.
    ver como se criaram laços dentro de uma tragédia, como reavaliaram as suas vidas. como mantiveram a calma e se despediram das suas famílias.

    tento não esquecer todas as vidas que já vi expostas e todos os momentos que já foram retratados.

    as pessoas são tudo.

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  14. prefiro mil vezes, a sério. o acto de beber condiciona um bocado o meu estado. as barrinhas de chocolate deixam-me o cérebro aos pinchinhos, prefiro este 8)

    boa observação, nunca me tinha apercebido :)

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  15. não sabia se devia ou não dizer isto.

    mas optei por dizer.

    tenho saudades de falar contigo

    acho que me habituei ás longas conversas, e aos teus textos.

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  16. sim

    concordo, é o melhor entendimento entre duas pessoas.

    prezando a honestidade e o equilíbrio.

    obrigada henrique

    (desculpa só responder hoje, mas não pode responder antes)

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  17. disse que lia e te dáva a minha opinião. e vou fazê-lo. não sei é se vai sair alguma coisa de jeito, mas esperemos que seja minimamente razoável.

    na minha primeira aula de matemática, a primeira coisa que o professor nos mandou fazer depois de se apresentar, foi escrever umas frases que nos ía ditar. entre elas estava uma que dizia que o ser humano vivia em busca da felicidade interna. e lembrei-me do que escreveste. não por não dizeres que o ser humano procurar felicidade, mas sim não ser infeliz.

    e agora fiquei dividida. se apenas me dissessem que o homem procura ser feliz, não concordaria. penso eu. mas quem disse aquela frase, dalai lama, se a memória não me engana, resolveu acrescentar o «interna». à primeira vista, não me faz diferença nenhuma, mas depois comecei a pensar.

    acho que incoscientemente, muito do que nós, seres humanos, fazemos é uma tentativa de sermos vítimas da felicidade. momentânea na maior parte das vezes. quer comprar uma peça de roupa, ouvir música, fotografar, pensar, fechar os olhos e sentir o vento..porque é que o fazemos? porque nos sentimos felizes. por termos uma réstia de felicidade momentânea.

    mas depois vem o teu não sermos infelizes. e pôs-me novamente a pensar. se calhar é o que está mais correcto. se eu estou a ouvir uma música que me faz relembrar momentos passados que não voltam nunca mais e começo a chorar, como é que eu posso ser feliz nesse momento? posso estar a ser feliz e infeliz simultaneamente?
    e volto a considerar os exemplos que dei acima. um indivíduo que seja feliz não precisa de coisas materiais para o ser, não é? não é isso que dizem? que a felicidade não é obtida através de bens materiais? mas a felicidade obtém-se?

    não consigo definir felicidade. parece-me mais fácil definir infelicidade. parece-me ser mais vulgar. parece-me encontrá-la a cada virar da esquina. mas e a felicidade? essa já me parece mais rara. parece-me mais um limite teórico. como a perfeição. não sei. provavelmente por sempre que penso em felicidade, pensar em felicidade eterna. foram muitos «e viveram felizes para sempre». acho difícil isso acontecer. mas não posso dizer que acredito ou que não acredito porque não tenho provas nem de um, nem de outro. posso apenas criar uma opinião com base na minha curta experiência de vida, do que observo e do que leio. de mais nada. mas acho mais fácil a felicidade momentânea. quando num determinado período da vida tudo nos faz sorrir. porque ao longo da nossa vida há momentos e momentos. nem todos são mar de rosas. as pessoas nascem, vivem e morrem. as pessoas marcam-nos. as experiências ficam gravadas na nossa mente.

    quanto ao sentido da vida..não consigo conceber a ideia de estar cá por acaso, de estar unicamente de passagem. tudo tem um sentido. tudo marca algo ou alguém. tudo.
    no entanto, também não consigo conceber a definição de sentido. cheira-me que é uma coisa que nunca conseguirei fazer.




    este é provavelmente dos teus textos que mais gosto e admiro.


    e apercebi-me agora que só me consegui envolver no que escrevi com isto http://www.youtube.com/watch?v=K1cqn3UDmp4&feature=player_embedded#t=321

    perdi a conta do número de vezes que a ouvi, só para conseguir continuar o meu raciocínio e fazer os meus dedos tocarem nas teclas com sentido. mas agora que vejo, o que escrevi parece não fazer sentido nenhum.

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Os Reflexos